sexta-feira, 8 de abril de 2011

CONVOCAÇÃO GERAL: A ESCOLA NO “CANTINHO DA REFLEXÃO”


            Em tempos de tragédias sem precedentes - violência nua e crua no cotidiano da família, do trabalho, do lazer e das ruas de nossa cidade - uma barbárie na escola brasileira, como a exemplo do Rio de Janeiro, foi a “gota d'água” para um “choque social”, pois acreditamos que todos nós estamos assim, perplexos face a violência.
            Essa realidade nos abala profundamente e, como profissional da educação, volto nossas reflexões para este espaço legitimamente social que tem a missão de prover aos indivíduos uma educação significativa e necessária a existência pacífica e humana nesta cidade, neste mundo.
            Profissionais da educação, todos para o “Cantinho da Reflexão”.  Todos são intimados, não individualmente, mas em grupo, em conjunto. Juntos vamos pensar sobre o nosso papel social; refletir sobre a função da escola enquanto agente e paciente da cultura, pois a escola não é neutra, também não é a única responsável pela educação, no entanto, é preciso cumprir nossa missão educacional, uma vez que a escola é influenciada e influencia o jeito de ser e de viver da sociedade, ou seja, fazemos e somos resultados da cultura. Cultura se constitui o conjunto de hábitos, de regras, de leis, de práticas formais e não formais de um povo, logo somos resultantes dessa construção histórica e social.
            Nesse contexto, a violência e o respeito ao próximo, por exemplo, é consequência da história que construímos, escola e outras instituições. A cultura age sobre nós com muita força. Por isso, a escola precisa atuar, conscientemente, na construção e desconstrução da cultura, contribuindo para minimizar pela educação a cultura da barbárie.
            Não coloco nas mãos de nossa classe professoral toda a responsabilidade pela qualidade de vida das pessoas, reafirmo nossa responsabilidade, que não é só da escola, mas de todas as instituições sociais e educacionais desta cidade, do país. Como escola devemos nos preocupar com a socialização de conteúdos, mas não só com a transmissão de conhecimento, com vista apenas para o aluno se preparar para o vestibular ou para galgar as séries posteriores no estabelecimento de ensino. Sim, preparar para o vestibular, para os concursos, para as séries novas, mas não só para esse fim.
            A escola tem a missão social de preparar o aluno na formação de sua personalidade, de seu caráter, a fim de que ele possa conviver com o outro, com as diferenças, extirpando preconceitos religiosos, sociais, sexuais, entre outros. Quantas vezes nossa cultura esmaga o outro com suas construções sociais intolerantes? Até quando vamos vivenciar, escutar e assistir em tempo real pela mídia a violência ao outro? Não seria esta violência consequência de normas e regras que defendemos com “unhas e dentes” e que não abrimos mão desta cultura do mal, por que estamos convencidos de que estamos certos, somos superiores ao outro que é diferente?
            A escola não pode atuar  para sanar essa realidade? Não é nossa responsabilidade, também? É necessário que nos conscientizemos que cada aluno é um filho, tem uma família (que tipo?), é um indivíduo, ou seja, tem sua singularidades, suas marcas específicas neste mundo. Como temos lidado com isso? Entramos em uma escola sem considerar essas especificidades? Quais as consequências dessa nossa atitude?
            Uma sala de aula não é só um coletivo heterogêneo de alunos iguais se preparando para uma avaliação, uma série nova, o vestibular. Não podemos perder a oportunidade de contribuir e amar nossos alunos, acreditar em cada um deles, inclusive naqueles que ficam quietinhos em sua carteira, muitas vezes estão sendo violentados pelo preconceito dos colegas, da família e até da falta de vínculos afetivos por parte dos profissionais da escola.
            As diferenças nos atormentam e, em geral, nos colocamos na condição do “eu”, aqueles que comungam de um mesmo complexo de valores, ideias, cultura. O “outro”, conjunto daqueles que vivem na contramão de nossas representações e conceitos engessados, não são atormentados também?. Quando não se percebe essas individualidades, valorizando as diferenças que não nos trazem dor, se agride, se mata (reino da intolerância). Então, o que se passa com o outro que vivencia a violência da indiferença, do preconceito e da intolerância? O que estes indivíduos fazem com aquilo que fazem deles, na escola, na família, na sociedade como um todo?
            Pelo laços afetivos, pelo acompanhamento, pelo amor, muitos conseguem sanar as indiferenças, essa violência e reagem de forma cidadão, inclusive apoiando outras pessoas que vivenciam violência diversas, como por exemplo, muitas pessoas se organizam em ONG's, instituições voltadas ao acolhimento. Mas os filtros da violência vivida por um indivíduo é diferente para cada um. Existem aqueles que reagem com violência, e na marginalidade, promovem o terror, a dor. 
            Professores, como não percebemos que nas raízes das tragédias de nosso tempo estão explícitas, em geral, as consequências de uma história construída pela nossa cultura? São muitas cicatrizes, seja pela maternidade ou paternidade irresponsável, pelo roubo da infância, pela crueldade do humor e das brincadeiras que marcam a alma. Acordemos, os vínculos afetivos, a acolhida, o combate a violência, ao bullying no ambiente escolar pode mudar muitas vidas para o bem , o belo, a felicidade.
            A escola necessita, urgentemente, repensar suas relações afetivas, os vínculos não podem ser apenas formais, ou seja, nem todos professores amam os seus alunos, nem todo gestor acredita e amam os alunos, nem todos os pais de alunos aceitam e amam os colegas dos filhos. E isso marca. Portanto, seja verbal ou não, consciente ou não, passamos uma mensagem de amor ou rejeição. Qual a mensagem que nossa escola está passando aos alunos?
            Considerando essas reflexões, agora precisamos sair do “Cantinho da Reflexão” e agir de forma  coletiva e planejada uma proposta educacional voltada para o afeto, a acolhida, uma pedagogia da aceitação. Certamente, é difícil superar experiências culturais consolidadas. Difícil, porém não impossível. Difícil, talvez, pela falta de reflexão, pela falta de atitude, pela falta de coragem, pela falta de experiência e pela falta da experiência coletiva.

            Acredito que se abraçarmos a nossa missão educacional como ela deve ser, consequentemente, interferimos na cultura de nosso tempo, modificando, não só agora, mas no futuro o jeito de ser e viver de uma cidade, de uma nação, sem isso, nos acovardamos, sob pena de sofrermos as consequências da educação que temos, não só assistindo pela televisão ou pela internet, mas do nosso lado, no nosso dia a dia, como já temos sofrido nos últimos tempos. Caso, não consigamos avançar, é melhor voltarmos para o “Cantinho da Reflexão” para depurarmos nossas faltas, apurarmos nossa visão e começarmos tudo de novo.

Todos são convocados.


Parnaíba, 08 de abril de 2011

Afranio Teles (Pedagogo)

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